Santa Maria tem um Plano Municipal de Redução de Riscos atualizado. O documento, elaborado nos últimos 18 meses, identifica áreas com maior vulnerabilidade a desastres geológicos e hidrológicos, como deslizamentos e inundações, e propõe medidas estruturais e não estruturais para mitigar os impactos. Na última quinta-feira (18), uma audiência pública apresentou os resultados à comunidade e anunciou R$ 39 milhões para obras de prevenção.
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O documento é resultado de estudos técnicos conduzidos por uma equipe coordenada pela geóloga e professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Andréa Nummer. Foram analisadas 15 comunidades em oito bairros, com mapeamento de 106 setores classificados como de risco alto e muito alto. Nessas áreas, foram identificadas 396 edificações em risco alto e 245 em risco muito alto, especialmente nos bairros Urlândia, Santos, Km 3, Itararé, Morro do Cechella (onde mãe e filha perderam a vida após deslizamento nas enchentes de 2024), Vila Nossa Senhora Aparecida (conhecida como Churupa) e Vila Bilibio.
– Consideramos tanto processos hidrológicos, como inundações, enxurradas e alagamentos, quanto geológicos, como erosão de margens e movimentos de massa, que incluem escorregamentos e rolamentos de blocos.
A professora destaca que a proposta do PMRR é ser um instrumento de gestão e de busca por recursos, além de orientar políticas públicas de prevenção. Entre as intervenções propostas estão a limpeza de arroios, recuperação de pontes, desassoreamento de canais e melhorias na infraestrutura de drenagem pluvial.
Na prática, o secretário interino de Resiliência Climática e Relações Comunitárias, Edson Roberto das Neves Junior, afirmou que a eliminação completa dos riscos é impossível, especialmente em áreas ocupadas e vulneráveis socialmente. O que será trabalhado pela prefeitura são ações reduzir os riscos, de forma gradativa Como o próprio nome diz, trata-se de um plano de redução de risco. A eliminação total é considerada inatingível por todos os órgãos internacionais que tratam de desastres. Então o objetivo é reduzir riscos progressivamente. O município já vem adotando algumas dessas ações por meio do programa "Santa Maria Cidade Resiliente", e muitas das soluções propostas são baseadas na própria natureza, como bacias de contenção, por exemplo – diz o secretário.

Áreas de maior risco em Santa Maria
O Morro do Cechella, que abriga locais como a Rua Canário e a Vila Churupa, é o ponto que apresentou risco geológico mais elevado. Já na Vila Bilibio, localizada às margens da BR-158, os problemas são distintos: escorregamentos nas encostas e inundações na parte baixa, como explica a geóloga:
– Na Vila Bilibio, indicamos o desassoreamento do canal e a recuperação de pontes. Já nas encostas, sugerimos que as casas desocupadas em áreas críticas sejam demolidas, para evitar reocupações.
Nesse sentido, Andréa também destaca que parte das soluções propostas no plano são classificadas como soluções baseadas na natureza. Isso inclui a revegetação de margens, a construção de bacias de contenção, e o uso de áreas desocupadas para parques lineares, em vez de novas moradias.
– Quando se faz o desassoreamento, reconformação das margens e revegetação, estamos aplicando práticas que não apenas são eficientes, como também sustentáveis. Isso reduz os impactos ambientais, melhora a estética urbana e contribui para a qualidade de vida – afirmou a geóloga.

No plano, 15 áreas foram mapeadas
A missão de atualizar o Plano Municipal de Redução de Risco, que até então era de 2005/2006, foi dada pela Secretaria Nacional de Periferias (SNP), do Ministério das Cidades, ao grupo de pesquisadores do Laboratório de Geologia Ambiental (Lageolam) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O trabalho elencou 15 áreas de risco em Santa Maria, percorridas uma a uma. Neste estudo, somente partes dos bairros foram considerados. Se tratam de áreas de riscos que estão dentro destes locais, mas não caracterizam o bairro inteiro. As áreas mapeadas são:
- Área da Vila Schirmer
- Área do Residencial Km 3
- Área da Vila Urlândia
- Área da Vila Santos
- Área da Vila Lídia
- Área do Beco do Guarani
- Área da Vila Canário
- Área da Bela Vista
- Área da Bürger
- Área da Vila Nossa Senhora Aparecida
- Área da Bilibio
- Área da Vila Babilônia
- Área da Vila Arco-íris
- Área da Vila Favarin
- Área da Vila Chaminé
Passo a passo do trabalho
Voo de drone para identificar possíveis áreas de risco:
- Com ajuda do setor de geoprocessamento da Universidade, os pesquisadores identificaram áreas que apresentam riscos hidrológicos, como alagamentos por bueiros e inundações por transbordamento de rios, e geológicos, como deslizamentos. As informações serviram de base para as demais etapas do trabalho.
Mobilização da comunidade:
- Para garantir a participação da comunidade na elaboração do plano, uma reunião foi organizada para colher informações sobre riscos observados por quem vive no local. Como forma de mobilizar as pessoas, estratégias como carros e motos de som, rádios comunitárias e divulgação em escolas foram adotadas como canal de comunicação.
Equipe em campo:
- Com as áreas mapeadas por drone e informações coletadas junto à comunidade, a equipe foi a campo. Tudo foi registrado com anotações e fotografias.
Elaboração do mapa de risco com possíveis soluções
- Os dados obtidos foram discutidos e validados pelos comitês integrados por agentes públicos e comunidade residente da área de risco. Após isso, o mapa com a classificação dos graus de riscos hidrológicos e geológicos foi elaborado. O relatório final também aponta possíveis caminhos para a solução dos problemas indicados.
Monitoramento e atualização permanente
Conforme Edson Roberto das Neves Junior, o Plano Municipal de Redução de Riscos não é um documento estático, mas um instrumento que exige atualizações frequentes. Por isso, além do mapeamento técnico apresentado, o município trabalha para desenvolver ferramentas para fortalecer o diagnóstico e a capacidade de resposta.
Entre essas ações está o cadastro de pessoas afetadas por desastres, disponível de forma digital, no site da prefeitura. Os dados serão importantes para o acompanhamento das áreas de risco e formulação de estratégias mais eficazes.
– Esse plano precisa estar sempre atualizado. Por isso, é fundamental termos instrumentos que nos permitam identificar quantas pessoas foram atingidas, em quais regiões, e com que tipo de dano.
Investimento e próximos passos
Durante o evento da última quinta-feira, a secretária de Planejamento e Administração, Liana Trost Ebling, anunciou que Santa Maria foi contemplada com mais de R$ 39 milhões em recursos do Novo PAC Seleções, destinados a obras de drenagem urbana e contenção de encostas. As ações estão previstas no plano e são consideradas prioritárias para mitigar os efeitos de desastres em áreas vulneráveis.

As sugestões e questionamentos apresentados na audiência pública serão analisados e incorporados à versão final do Plano Municipal de Redução de Riscos, que será enviada ao Ministério das Cidades, por meio da Secretaria Nacional de Periferias. A partir dessa etapa, o documento retorna ao município com eventuais considerações e passa, então, à fase de implementação oficial.
Ainda conforme o secretário, mesmo ainda em fase de ajustes, o plano já embasou a inscrição de projetos no Novo PAC, o que possibilitou a conquista de recursos significativos. Uma das intervenções prioritárias previstas é a drenagem da bacia do arroio Cadena, que beneficia bairros como Urlândia, Santos, Lídia, Chaminé e Babilônia.
– Esse recurso federal é um ponto de partida importante, mas o plano é amplo e exige investimentos adicionais. Ainda há muito por fazer para que as ações saiam do papel e gerem entregas concretas para a população – afirma o secretário interino de Resiliência Climática e Relações Comunitárias.
A expectativa é que o relatório final seja concluído até o início de novembro, com a elaboração de um resumo executivo e a publicação do material completo no site da Secretaria de Resiliência Climática.
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